Corra!
Crítica:
“Corra!”, dirigido pelo desconhecido e estreante Jordan Peele, chegou ao Brasil cheio de expectativas devido ao sucesso estrondoso nos Estados Unidos, obtendo 99% de aprovação no site Rotten Tomatoes. E o que podemos dizer é que toda essa expectativa faz jus ao filme.
O filme conta a história de Chris (Daniel Kaluuya), um jovem negro que vai visitar a família de sua namorada branca em uma cidadezinha bem afastada no interior. O que antes parecia apenas uma situação constrangedora de uma família tentando lidar com o namorado negro da filha, se torna em uma situação bizarra e perturbadora.
O mérito de “Corra!” é a mescla entre um tema ainda atual, como o racismo e o terror. E esse tema é exclusivamente uma crítica à elite rica, branca e politicamente correta dos Estados Unidos (mas que também se pode aplicar a de nosso país), que supostamente são “desconstruídos”, mas que fica claro aquele racismo velado.
A construção da história é muito bem feita, com uma tensão crescente ao longo do filme que chega ao ponto máximo no ato final. Impossível não suar frio e sentir a angústia do personagem durante o filme, principalmente quando acontece o chamado plot twist. E fazia tempo que não via uma audiência tão participativa em uma sala de cinema, batendo palmas e vibrando nos momentos de “vitória” do protagonista ou sofrendo e se perguntando em voz alta, assim como o personagem, “que p... é essa que tá acontecendo aqui?”.
Esse estado de tensão crescente é construído num bom ritmo, desde a chegada de Chris à casa dos sogros - que mesmo se mostrando bastante solícitos inicialmente, o espectador já percebe algo falso ali – até à festa dos amigos da família, que é um show de constrangimento. Os pouquíssimos personagens negros, além do protagonista, se comportam de maneira estranhíssima, deixando curiosidade de quem assiste cada vez maior.
E quando você acha que já descobriu o mistério por trás da história, que te induz de todos os jeitos para um caminho, o plot twist revela outra explicação surpreendente e original. Um ponto positivo é que essa reviravolta não acontece no ato final, deixando tempo para o desenvolvimento de mais surpresas e tensões. Apesar da motivação dos antagonistas ser original, não me convenceu muito e achei até banal, mas é algo que não tira o valor do filme, justamente pelo fato de que o filme tem um tempo considerável após essa revelação e a cena final é sensacional, sem nenhum exagero.
O elenco muito bem escalado, com destaque para Daniel Kaluuya, com seus olhares sempre apreensivos, que convence como vítima da história e nos faz torcer por ele, e para LilRel Howery, o amigo do protagonista que é o alívio cômico da história. A trilha sonora é inquieta e dialoga bem com as angústias do espectador.
Portanto, “Corra!” é um filme intrigante e original, que prende a atenção de quem assiste o tempo inteiro, e apesar de uma motivação fraca para a reviravolta, tem um final arrebatador. Uma história que te fará ficar pensando após tê-la visto e querer discuti-lo na mesa do bar. Sem dúvida vale a pena ser visto.
NOTA: 9.0
Estudante de Geologia que tem o cinema como paixão e hobby desde pequeno. Entre todas as incertezas da vida, a sétima arte é um porto seguro e um meio de escapismo e reflexão. Tem um lugar especial no coração para filmes de terror e drama, mas gosta de todos os gêneros de filme, desde que cumpram o que propõem e não sejam dirigidos pelo Michael Bay.
Matheus Fontana
