Dissecando Quentin Tarantino
Quentin Tarantino é um dos diretores/roteiristas de Hollywood mais populares da atualidade. Suas obras tão características resultaram numa legião de fãs por todo o mundo, e também de haters, que insistem em dizer que o cineasta não é original ou apenas supervalorizado. Ame-o ou odeie-o, mas é inevitável dizer que se trata de um dos principais expoentes do cinema e que seu trabalho marcou uma geração.

Biografia:
Quando Quentin Jerome Tarantino nasceu em março de 1963, em Knoxville, Tennessee, já tinha o cinema em seu sangue. Seu pai, Tony Tarantino, era um ator e músico de origem italiana, e sua mãe, Connie McHugh, era uma professora apaixonada por filmes, que escolheu o nome do filho devido a um personagem de uma série de televisão dos anos 60 chamada Gunsmoke. Connie, inclusive, levava seu filho constantemente ao cinema desde os 2 anos de idade e por causa dessa introdução à sétima arte, Quentin se apaixonava cada vez mais pelo cinema.
Aos 22 anos, Quentin conseguiu emprego em uma locadora em Los Angeles, onde ele passava o dia todo assistindo a filmes e discutindo os mesmos com seu amigo Roger Avary (que mais tarde ajudaria na produção de Pulp Fiction). A partir daí começou a escrever seus próprios roteiros e filmá-los com seus amigos.
Posteriormente, passou a estudar atuação em uma tradicional escola em LA, sendo a porta de entrada do jovem sonhador para Hollywood. Tarantino passou a divulgar seus diversos roteiros nos bastidores, até que em 1988 conseguiu vender Assassinos por Natureza para o diretor Oliver Stone. Com esse dinheiro, Tarantino investiu no roteiro de Cães de Aluguel, seu primeiro filme, onde o famoso ator Harvey Keitel adorou a história e entrou como produtor e ator do filme.
“Se você quer fazer um filme, faça-o. Não espere patrocínio, não espere circunstâncias perfeitas. Simplesmente faça-o.”
Todo diretor tem uma assinatura. Por exemplo, Tim Burton tem como característica fazer filmes sombrios e com personagens caricatos, Mel Gibson relata sempre situações de patriotismo em suas obras, Michael Bay gosta de fazer filmes péssimos com roteiro superficial e explosões em todas as cenas (sim, eu odeio o Michael Bay). A assinatura de Tarantino é a violência, a metralhadora de referências de filmes antigos e elementos da cultura pop, a vingança normalmente como um ingrediente essencial, cenas com diálogos longos, narrativa não-linear e sangue...muito sangue!
Estas características tão marcantes nos faz reconhecer um filme do Tarantino de longe e fizeram com que se tornasse um dos cineastas mais influentes de sua geração. Sua primeiras obras, Cães de Aluguel e Pulp Fiction já são consideradas clássicos cult do cinema, mesmo sendo lançadas em 1992 e 1994, respectivamente. E o que fazem estes filmes serem cult? Seus roteiros originais, sem seguirem a fórmula hollywoodiana e sem a preocupação de agradar o público. Numa época onde boas idéias estão escassas na indústria do cinema, que apela cada vez mais para remakes, filmes de personalidade forte como esses devem ser cada vez mais valorizados (Tarantino já ganhou duas estatuetas do Oscar na categoria “Melhor roteiro original”).
Personagens fortes, vilões realmente maus e reviravoltas em suas histórias complementam suas obras que sempre contam com grandes atuações. Tarantino sabe bem escolher o elenco de seus filmes. Vale o destaque para as atuações de Samuel L. Jackson, como Jules em Pulp Fiction e a ganhadora do Oscar de Cristoph Waltz, como Hans Landa em Bastardos Inglórios.
Basicamente, apenas o nome “Quentin Tarantino” em um cartaz de filme hoje em dia é o suficiente para atrair uma multidão aos cinemas. Querendo ou não, se trata de um diretor que é especializado no entretenimento, mesmo aliado a um roteiro complexo, e como o próprio diz, retrata em seus filmes aquilo que as pessoas querem ver. Mas nem tudo são flores...
Características:
“Adoro a violência. Às vezes eu acho que Thomas Edison inventou a câmera só para que pudéssemos filmá-la.”
Polêmicas:
Do mesmo modo que seus filmes atraem uma multidão aos cinemas e resultam em uma legião de fãs, existem aqueles que criticam duramente os roteiros de Tarantino, alegando que o mesmo não é original e comete plágio em todos os seus filmes. Os haters alegam que o diretor gosta de copiar os milhares de filmes que ele já assistiu e que a maioria não conhece por serem desconhecidos demais.
Dizem que Cães de Aluguel é uma cópia descarada de um filme chinês de 1987, chamado City on Fire (algo que este que vos fala não pode confirmar), e que até os diálogos são iguais. Alguns afirmam que o final de À prova de morte é o mesmo de um filme bem desconhecido chamado Supervixens. Mas as acusações não vão muito além disso. O próprio Tarantino brinca com esse assunto, dizendo que essa é a vantagem de ver filmes que ninguém nunca viu.
Fato é que suas obras são repletas de referências a filmes que o diretor assistiu em sua infância e em seu período trabalhando na locadora. Tarantino diz que são apenas homenagens e que todos os seus filmes são uma ode ao cinema. Suas principais inspirações são os filmes de faroeste italianos (Western Spaghetti), filmes clássicos de Kung Fu, thrillers e filmes de zumbi dos anos 70.
Se o assunto é cópia, fica a reflexão, quantos diretores já tentaram copiar ou pelo menos se inspirar no próprio Quentin Tarantino?

Uma Thurman em Kill Bill x Bruce Lee em O jogo da Morte - Homenagem ou plágio?
“Roubo (idéias) de todos os filmes já feitos.”
Opinião do autor:
Quentin Tarantino, apesar da pouca filmografia, afinal, são apenas oito filmes em sua carreira, é definitivamente um dos principais expoentes do cinema na atualidade. Apesar das pequenas polêmicas em sua carreira devido às acusações de plágio, a grande maioria do público e da crítica reconhece seu valor.
Seus filmes, mesmo com as diversas homenagens e referências a outros mais antigos e desconhecidos, são extremamente originais, fato justificado pelos dois Oscars de roteiro original que o diretor já ganhou (Pulp Fiction e Django Livre). Seus filmes são extremamente marcantes para quem assiste, com personagens carismáticos (Jules, Beatrix Kiddo, Aldo Raine), vilões sádicos (Stuntman Mike, Hans Landa, Bill, Calvin Candie) e histórias fortes, com bastante violência e certa dose de humor. As ligações com a cultura pop aproxima a história com o público que assiste, mais um ponto positivo.
Quentin Tarantino é “apenas” um amante máximo do cinema, em toda sua essência, realizando seu sonho de fazer filmes. O jovem sonhador que ia ao cinema com a mãe desde criança e que trabalhava na locadora conseguiu chegar a Hollywood e fazer filmes de extrema qualidade. Como o mesmo diz, seus filmes são uma homenagem ao próprio cinema e sua história, e podemos ver isso refletindo em suas obras, que transitam em diversos gêneros como: ação, faroeste, terror, thriller, policial, comédia, luta e até anime.
Quem não conhece a filmografia do diretor, fica a sugestão de excelentes filmes. Abaixo, os filmes de Quentin Tarantino na ordem de minha preferência:
1. Bastardos Inglórios (2009);
2. Cães de Aluguel (1992);
3. Kill Bill vol. 1 e Kill Bill vol.2 (2003 e 2004) – não consigo separar os dois filmes;
4. Pulp Fiction (1994);
5. Django Livre (2012);
6. À Prova de Morte (2007);
7. Os Oito Odiados (2015);
8. Jackie Brown (1997).
“Toda vez que fico sentindo pena de mim mesmo, digo: ‘pobrezinho, está tendo a vida com que sempre sonhou’.”
Curiosidades:
• Quentin Tarantino afirmou que se aposentará com 10 filmes apenas em sua carreira. Faltam dois, e há uma grande chance de um deles ser Kill Bill vol.3, onde a filha da personagem Vernita Green buscará vingança pela morte da mãe (palavras do diretor).
• Quentin Tarantino adora seus personagens, inclusive os vilões. O diretor afirmou que existe apenas um que ele não gosta, um personagem que não tinha nada de bom e era extremamente cruel e covarde. Quem? Calvin Candie, interpretado por Leonardo Di Caprio em Django Livre.
• O diretor confirmou que todos os seus filmes são interconectados de alguma forma. Ele disse que todos pertencem ao mesmo universo superviolento que ele criou. Essa fala confirmou uma teoria de anos, que virou até tema de documentário interpretado por Selton Mello e Seu Jorge. Link do documentário: https://www.youtube.com/watch?v=op4byt-DtsI
• Quentin Tarantino já dirigiu um trecho do filme Sin City a convite do amigo Robert Rodríguez. A cena é a que Dwight conversa com o cadáver de Jackie-Boy enquanto dirige o carro. Detalhe: Tarantino recebeu o pagamento simbólico de um dólar por esse trabalho.
• Além de diretor, Tarantino é ator (não no mesmo nível) e já atuou em 19 filmes.
• Já recebeu 24 indicações ao Oscar em categorias diversas, vencendo 5 vezes.
• Madonna deu o CD de Like a Virgin autografado para o diretor, após a famosa cena de Cães de Aluguel. Nele estava escrito: “é sobre amor e não sobre pirocas” (desculpa família tradicional brasileira).
“Um dia, meu netos saberão que o início dos anos 2000 parecia escrito por Quentin Tarantino, e mesmo assim, ousávamos acreditar que os seguintes seriam de uma autoria mais Woody Allen. Mantivemos a esperança, sim!”
Estudante de Geologia que tem o cinema como paixão e hobby desde pequeno. Entre todas as incertezas da vida, a sétima arte é um porto seguro e um meio de escapismo e reflexão. Tem um lugar especial no coração para filmes de terror e drama, mas gosta de todos os gêneros de filme, desde que cumpram o que propõem e não sejam dirigidos pelo Michael Bay.
Matheus Fontana
